Da Alongatto a Compostela

(Imagem cedida do próprio autor)

Acabei de fazer 400 quilômetros do Caminho de Santiago. Até Compostela, eu e minha mochila enfrentamos 17 dias entre terrenos áridos e solitários da Meseta. Montanhas cobertas de neve até o joelho na descida do Cebreiro. Chuva fria interminável que desabava do céu impiedoso da Galícia.

No sobe e desce em trilhas encharcadas não houve sinal de primavera. O desafio do inverno prolongado na Espanha foi tão duro que O Caminho não abriu espaço para muita emoção. Era caminhar ou desistir. Seguir setas amarelas ou voltar para casa sem destino para chorar caminho derramado.

Cada dia era o mesmo exercício de superar exaustão física e controlar confusão mental de corpo moído pelas dores do Caminho. Corpo que até pouco atrás viveu décadas de sedentarismo e foi punido com duas cirurgias na coluna vertebral, além de lesão de menisco.

Não faltaram diagnósticos de que O Caminho seria insensatez. A determinação íntima de andar na contramão dos meus limites, no entanto, acabou por desmentir o que era tecnicamente improvável. E quando tive a Catedral de Compostela aos meus pés me lembrei do passo zero caminhado desde a Alongatto.

Só tenho gratidão à paciência da Gracielli com minhas dores. Vai dar, não vai dar, era tudo o que ouvia Adrianne, sempre pronta a mostrar a evolução em treinamento impecável. Thuane, que me convenceu de que precisava de músculo para chegar lá. Sara, carinhosa, a me encorajar mesmo com coração partido. A todas vocês, muito obrigado.

Márcio Fernandes